Imaginar e ver são o mesmo
para o cérebro
"Imagine todas as pessoas vivendo em paz", propôs
John Lennon. O melhor a fazer talvez seja levar a idéia
a sério e imaginá-la porque, para o cérebro,
no final das contas, é o mesmo que viver a realidade.
É o que afirma um estudo publicado na revista Nature,
uma das publicações científicas mais
importantes do mundo, e cujo autor principal é um jovem
investigador argentino de 28 anos que trabalha no Instituto
de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
"Imaginar o presidente Clinton, um quadro de Van Gogh
ou o Batman parece ativar no cérebro os mesmos neurônios
que intervêm quando efetivamente vemos", explica
ao Salutia Gabriel Kreiman, um químico formado na Universidade
de Buenos Aires, que trabalha há quatro anos no Caltech.
Kreiman, que assinou o estudo junto com Christof Koch e Itzhak
Fried, aproveitou a oportunidade de estudar o estímulo
individual de neurônios em quatro regiões do
cérebro de uma dezena de pacientes epiléticos.
Os pesquisadores colocaram, nesses pacientes, eletrodos em
zonas específicas para identificar o foco de suas crises
convulsivas.
"Ao menos nas áreas cerebrais examinadas, observamos
que 88% dos neurônios individuais se ativam durante
a visão e a lembrança de imagens previamente
visualizadas", assinala o especialista.
A idéia central do projeto era registrar a atividade
dos neurônios quando os pacientes viam ou imaginavam
rostos. Não é uma casualidade: "Nos seres
humanos, os rostos são um estímulo muito importante
e existem zonas do cérebro especializadas para sua
identificação", descreve Kreiman.
Quando esses circuitos falham podem acontecer histórias
como a que descreveu o famoso neurologista Oliver Sacks no
livro The man who mistook his wife for a hat (O homem que
confundiu sua mulher com um chapéu).
Segundo as áreas do cérebro analisadas, até
10% dos neurônios podem ativar-se diante a visão
ou da lembrança de um rosto. O que Kreiman pretende
descobrir é se esse mesmo mecanismo acontece durante
o sonho, isto é, se os mesmos neurônios que se
ativam quando vemos, por exemplo, o rosto de Diego Maradona
são aqueles que depois se reconstituem durante a noite.
No futuro, talvez se possa registrar a atividade cerebral
sem utilizar eletrodos e predizer com que rosto ou objeto
uma pessoa está fantasiando ou sonhando. "É
muito difícil, mas não inconcebível",
aponta Kreimen.
Os últimos esconderijos da intimidade podem ficar
expostos diante do olho inexorável da ciência.
Fonte: Salutia
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