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C & T - On line - 13/03/01
Imaginar e ver é a mesma coisa para o cérebro
                   12 de março, 2001 
                  Às 1:35 PM hora de Nova York (1835 GMT) 

                  Por Matías Loewy 

                  (SALUTIA) -- "Imagine todas as pessoas vivendo em paz", propôs John Lennon. O melhor a fazer
                  talvez seja levar a idéia a sério e imaginá-la porque, para o cérebro, no final das contas, é o mesmo
                  que viver a realidade. 

                  É o que afirma um estudo publicado na revista Nature, uma das publicações científicas mais
                  importantes do mundo, e cujo autor principal é um jovem pesquisador argentino de 28 anos que
                  trabalha no Instituto de Tecnologia da Califórnia, Caltech. 

                  "Imaginar o presidente Clinton, um quadro de Van Gogh ou o Batman parece ativar no cérebro os
                  mesmos neurônios que intervêm quando efetivamente vemos", explicou Gabriel Kreiman, um
                  químico formado na Universidade de Buenos Aires, que trabalha há quatro anos no Caltech. 

                  Kreiman, que assinou o estudo junto com Christof Koch e Itzhak Fried, aproveitou a oportunidade de
                  estudar o estímulo individual de neurônios em quatro regiões do cérebro de uma dezena de
                  pacientes epiléticos. Os pesquisadores colocaram, nesses pacientes, eletrodos em zonas específicas
                  para identificar o foco de suas crises convulsivas. 

                  "Ao menos nas áreas cerebrais examinadas, observamos que 88% dos neurônios individuais se
                  ativam durante a visão e a lembrança de imagens previamente visualizadas", assinala o especialista. 

                  Enganando os sonhos

                  A idéia central do projeto era registrar a atividade dos neurônios quando os pacientes viam ou
                  imaginavam rostos. Não é uma casualidade: "Nos seres humanos, os rostos são um estímulo muito
                  importante e existem zonas do cérebro especializadas para sua identificação", descreve Kreiman. 

                  Quando esses circuitos falham podem acontecer histórias como a que descreveu o famoso
                  neurologista Oliver Sacks no livro The man who mistook his wife for a hat (O homem que confundiu
                  sua mulher com um chapéu). 

                  Segundo as áreas do cérebro analisadas, até 10 por cento dos neurônios podem ativar-se diante a
                  visão ou da lembrança de um rosto. O que Kreiman pretende descobrir é se esse mesmo
                  mecanismo acontece durante o sonho, isto é, se os mesmos neurônios que se ativam quando
                  vemos, por exemplo, o rosto de Ronaldinho são aqueles que depois se reconstituem durante a noite.

                  No futuro, talvez se possa registrar a atividade cerebral sem utilizar eletrodos e predizer com que
                  rosto ou objeto uma pessoa está fantasiando ou sonhando. "É muito difícil, mas não inconcebível",
                  aponta Kreimen. 

                  Os últimos esconderijos da intimidade podem ficar expostos diante do olho inexorável da ciência.